Cerca de 60 quilómetros a leste de Ottawa fica uma floresta ressuscitada.

canada
© FSC Canada

No início dos anos 1900, um coberto de cicuta e pinheiros brancos foram desflorestados para plantação de outras culturas – um plano mal orientado, já que os solos arenosos se mostraram inadequados para a agricultura. Assim, se instalou um deserto de áreas abandonadas perto de Bourget, Ontário, até que um engenheiro agrónomo local começou a plantar coníferas no final da década de 1920.

Desde então, graças a esforços colaborativos, a paisagem voltou a crescer e, com 18 milhões de árvores plantadas, transformou-se numa floresta próspera e bio diversa. Agora é chamada de Larose Forest, uma das maiores florestas comunitárias do sul de Ontário – um santuário para a vida selvagem e um lugar importante para as pessoas se conectarem com a natureza, no meio da região mais populosa do Canadá.

Uma pequena equipa do departamento de planeamento e gestão florestal dos condados unidos de Prescott e Russell (UCPR) lidera a gestão responsável da Larose – esforços que ganharam a certificação FSC, por quase 20 anos.

"A norma do FSC forneceu-nos uma estrutura forte para construir o nosso plano de gestão florestal e orientar as estratégias que implementamos na floresta", diz Steven Hunter, engenheiro florestal da UCPR. "Com a certificação, também acedemos a especialistas com diversas formações, que nos ajudam a melhorar continuamente os nossos esforços para preservar habitats prioritários."

Uma das espécies mais amadas e emblemáticas de Larose é o alce: um mamífero esquivo, mas carismático, um dos maiores de qualquer floresta canadiana. Aqui em Larose, os animais – que têm um valor cultural significativo para os povos Mohawk e Algonquin locais – compõem uma das populações de alces mais ao sul do Canadá.

No centro de Larose, está uma grande zona húmida que é fundamental para o habitat dos alces. Na primavera é usado como zona de berçário; no verão, fornece água para beber e para refrescar os animais ; no outono é local de acasalamento; no inverno, fornece uma fonte crítica de alimento.

"Protegemos esta área de atividades de gestão florestal e recreação", explica Steven. "Noutros lugares, mantivemos ou melhoramos características críticas do habitat, como o buffer  de áreas húmidas que fornecem plantas aquáticas que os alces comem, e a restrição de exploração  para reduzir o nosso impacto durante períodos críticos do ano, como o da reprodução."  

Tais estratégias também beneficiam outras espécies que, entre outras, incluem o veado-de-cauda-branca (Odocoileus virginianus), o tetraz de colar (Bonasa umbellus), o coelho-de-rabo-de-algodão (Sylvilagus floridanus), o noitibó-cantor (Antrostomus vociferus), o pica-pau orelhudo (Dryocopus pileatos) e a traça imperial, uma espécie considerada vulnerável em Ontário.

Cerca de 2.400 espécies de flora, fauna, líquen e fungos, 30 das quais estão ameaçadas ou em risco, prosperam agora em Larose. Aqui, flores silvestres raras misturam-se com imponentes pinheiros brancos orientais, salamandras de pintas amarelas com sapos coro ocidentais e pássaros que nidificam na floresta, como sapinhos de madeira, com mamíferos como lontras – e, claro, alces.

 

Steven diz que a floresta é gerida de tal forma, que cria paisagens diversificadas em vários estágios de desenvolvimento para fornecer uma grande variedade de habitats. "Isso inclui proteger e melhorar características críticas do habitat, como ninhos, cavidades em árvores, abrigo de inverno e importantes fontes de alimento", diz ele.

A equipa também realiza inventários para avaliar o habitat da vida selvagem e determinar a presença de espécies em risco. O que antes eram "blitzes biológicas" de dois a três dias, agora são esforços contínuos através do aplicativo iNaturalist, onde os cidadãos podem confirmar espécies e segmentar geograficamente as suas localizações.

Os cidadãos identificaram, de facto, mais de 800 espécies de insetos, que são as espécies mais amplas, diversificadas e importantes de Larose, uma vez que alimentam aves, polinizam plantas e decompõem matéria orgânica. A UCPR tem trabalhado com grupos como o Ottawa Field Naturalists Club para desenvolver planos específicos com o objetivo de melhorar significativamente o habitat dos insetos.

"O nosso envolvimento com uma ampla gama de utilizadores da floresta, também são uma ótima maneira de cumprir com muitos princípios de certificação FSC, incluindo a proteção de espécies raras e ameaçadas de extinção", diz Steven.

Enquanto isso, Larose Forest – que fica como uma ilha verde no meio do desenvolvimento e de terras agrícolas – é um local popular para as práticas de sky, bicicleta de montanha, caminhadas e outras atividades, recebendo quase 50.000 visitates por ano. Há cerca de 15 anos, a UCPR reuniu uma equipa para estudar os melhores locais para trilhos que limitassem quaisquer efeitos nocivos no ecossistema. Hoje, mais de 200 km de estradas e trilhos bem cuidados cruzam a floresta com segurança.

Steven diz que os moradores entendem que a sua floresta certificada pelo FSC, está a ser bem gerida em seu nome – um "selo de aprovação", por assim dizer. Estes esforços assumem uma importância acrescida para as florestas comunitárias que devem persistir, apesar do crescimento nestas regiões altamente desenvolvidas.

É o caso de Larose, reconstruída do sub-bosque pela paixão e dedicação de quem vive, trabalha e se diverte nas proximidades.