O fogo que tudo leva, mas que também controla

O fogo que roubou os sobreiros e alguma outra produção florestal, ao Casal das Balsas, em 2003, fez nascer o projeto de restauro de áreas afetadas por espécies invasoras, com uma componente inovadora na recuperação de solos degradados. Adensamentos de sobreiro, arborizações de eucalipto, entre outras espécies de árvores e operações de podas e limpezas de vegetação foram as apostas para a recuperação.

casal das balsas

De geração em geração

cb
© FSC Portugal

Tudo começou no século XVIII. A família Amaral Neto escolheu Casais das Balsas, Valeira e Pai Poldro para fazer vida. Desde então, que vários anos se passaram e a propriedade continua a passar pelas gerações.

Sobreiro, pinheiro-bravo e pecuária (ovinos, bovinos, caprinos) foram as apostas feitas, desde o início do século XX até aos anos 60. O arroz e os pessegueiros vieram depois, em conjunto com as barragens e a mecanização.

O caminho estava a ser frutífero e com foco, até que com a revolução dos cravos e, consequentemente, com a reforma agrária, a propriedade foi ocupada, em 1976, por uma unidade coletiva de produção. Assim se manteve durante 8 anos. Pouco tempo depois da ocupação, deu-se a rutura da barragem de Pai Poldro.

Tempo de mudança

A recuperação chegou em 1984. Os antigos proprietários voltaram à propriedade, arregaçaram as mangas e fizeram mudanças significativas. Portugal tinha entrado na Comunidade Económica Europeia. Muito viria a acontecer no setor agroflorestal.

A vontade de fazer melhor estava instalada. Iniciaram-se as primeiras arborizações de eucaliptos. Seguiram-se os pomares de pessegueiros e olivais. Desenvolveu-se a atividade pecuária com a produção ovina. Fizeram-se arborizações florestais de sobreiros e pinheiro-bravo. O apoio comunitário foi o mote para este investimento.

O medo não mora aqui

f2
© Casal das Balsas

Veio com toda a força. Ninguém estava a contar. O ladrão do fogo roubou-lhes os sobreiros e alguma outra produção florestal. 2003 foi um ano duro, mas não demoveu a família Amaral Neto. Continuou-se o trabalho.

Surgiu assim o projeto de restauro de áreas afetadas por espécies invasoras, com uma componente inovadora na recuperação de solos degradados. Adensamentos de sobreiro, arborizações de eucalipto, entre outras espécies de árvores e operações de podas e limpezas de vegetação foram as apostas para a recuperação. O fogo agora foi amigo e veio ajudar, desta vez a controlar espécies invasoras.

“Neste projeto usamos uma técnica inovadora para controlo de espécies invasoras. O fogo controlado, usado em duas parcelas distintas, permitiu-nos obter resultados bastante favoráveis na irradicação da Hakea sericea.” menciona Carlos Amaral Neto, proprietário de Casal das Balsas.

A intervenção não ficou por aqui. O projeto incluiu ainda uma pequena ação em terras suscetíveis à erosão, tendo sido realizado um trabalho de hidrossementeira, com o objetivo de criar um coberto vegetal que proteja o solo da ação hídrica e raizame que segure o solo.

Beneficiaram desta intervenção 100 hectares, com uma incidência física de 55 hectares.

Certificação sinónimo de valorização

As ações de planeamento e execução de operações florestais seguiam uma forma menos estruturada. 2009 trouxe, ao Casal das Balsas, a certificação pela norma de gestão florestal sustentável FSC, que possibilitou que esta propriedade tivesse uma melhor gestão das boas práticas florestais e uma maior preocupação com o conceito da sustentabilidade. 766 hectares é a área total certificada, dos quais 81 hectares estão demarcados como conservação.

cb
© FSC Portugal

Membro Fundador do grupo de certificação da ACHARsgf, que recebeu o milésimo certificado de gestão florestal do FSC Internacional, o Casal das Balsas viu na certificação FSC um fator diferenciador e o valor que procurava.

“A adesão ao grupo de certificação da ACHAR, permitiu-nos obter maior valor económico na comercialização dos nossos produtos florestais, assim como gerir o risco de conformidade legal.” acrescenta Carlos Amaral Neto.

A consequência é óbvia:

  • controlo da disseminação da Hakea sericea com recurso a meios mecânicos e manuais, que asseguram a cobertura do solo e impede a erosão pela ação da precipitação, aumenta o volume da biomassa contribuindo para o aumento da matéria orgânica, dos níveis de fertilidade do solo e do teor em carbono;
  • proteção de indivíduos jovens de sobreiro com níveis de regeneração natural de sobreiro muito interessantes;
  • e aparecimento de espécies típicas dos habitats mediterrânicos de sobreiro, em particular o tojo, a urze, a murta e medronheiro.

A audácia e a ânsia de uma maior valorização, foram pioneiras na adoção de estratégias arrojadas. O fogo já não lhe mete medo. O Casal das Balsas tem agora outra cara.

Com o apoio da ACHAR e da Herdade Casais das Balsas, Valeira e Pai Poldro