Motivados pelo passado, moldamos o presente

Na Herdade do Zambujo, em Idanha-a-Nova, podemos encontrar flora, fauna, mas também património cultural raros, dignos de uma proteção ativa, feita através do recurso a aplicativos inovadores, permitindo assim que a The Navigator Company consiga moldar o presente desta Floresta de Alto Valor de Conservação, sem esquecer o seu passado e sempre com um olhar no futuro.

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Por entre o verde e o azul

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© FSC Portugal

A viagem ruma a Idanha-a-Nova, até à Herdade do Zambujo, uma propriedade da The Navigator Company, com 397 hectares, dos quais 189 estão classificados como zonas com interesse de conservação. Os caminhos rodeados, maioritariamente por eucaliptal e bosque de azinho, pintam a paisagem de verde. Os primeiros destinam-se à produção. Já os segundos são para proteção e pela sua dimensão e estado de conservação, são dignos de serem classificados como um Alto Valor de Conservação, um conceito inovador criado pelo FSC, que identifica florestas com atributos excecionais em biodiversidade, ecossistemas raros, serviços essenciais ou importância cultural e social.

Ao deambular por este espaço, nas margens do rio Erges, encontram-se tamujais (Fluggea tinctoria), pradarias mediterrânicas de bunhos e juncos (Molinio-Holoschoenion) e gramíneas como a Festuca duriotagana, mas também outras espécies de flora interessantes do ponto de vista de conservação, como a vulnerável (de acordo com a Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental) bufónia (Bufonia macropetala subsp. Willkommiana), e os endemismos ibéricos, como o lírio-amarelo-dos-montes (Iris xiphium var. lusitanica), a linária ametista (Linaria amethystea subsp. Amethystea), o narciso (Narcissus rupicola), o Salgueiro-branco (Salix salviifolia subsp. Australis) e orquídeas como a Orchis morio.

Porém, não é apenas a flora que aqui habita; os animais são também residentes. Até 2023, contaram-se 57 espécies, algumas delas ameaçadas e importantes do ponto de vista da conservação no nosso país. O abutre preto, a águia real, a águia calçada, o bufo real, o corvo, o falcão peregrino, o grifo, e o abutre-do-egipto também conhecido como britango, são as aves mais avistadas por estes lados. Mas também a rã-de-focinho-pontiagudo e o cágado-mediterrânico são mais alguns dos habitantes que usufruem deste habitat natural tão diverso.

“Além da biodiversidade, podemos encontrar também património cultural, e todos estes valores permitem classificar esta zona como uma Floresta de Alto Valor de Conservação” afirma João Fernandes Faia, da Direção de Gestão Florestal da The Navigator Company.

A proteção ativa das espécies de fauna e flora, bem como de bens de valor cultural, através de medidas que estão contempladas no plano de gestão florestal da área, tem tido uma atenção crescente nos últimos anos.

Viagem no tempo

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© FSC Portugal

A caminhada pela propriedade continua em direção a norte e já na margem do ribeiro do Muro Alto, é avistada uma estrutura em pedra redonda, aparentemente caída do nada no meio da vegetação. Verifica-se que se trata de um conjunto de pedras que se encastelam umas em cima das outras, formando um muro em xisto, com cerca de 26 metros de diâmetro, tratando-se, pois, de um extraordinário exemplar de muro apiário.

O elevado investimento em tempo e recursos humanos tinha de ter um motivo muito forte para a construção deste tipo de muros.  A presença de mamíferos na região poderia ser uma dessas razões, dado que normalmente os muros apiários eram usados para proteger os colmeais da sua ação predadora.

João Fernandes Faia acrescenta: “O objetivo destas estruturas construídas em pedra, era para proteger os cortiços contra a ação predadora de animais como o texugo e o urso pardo. Além disso, servia de proteção contra ventos e incêndios.”

De características arquitetónicas arcaicas, estas preciosidades podem ser vistas em várias regiões da Península Ibérica e carregam normalmente vários anos de existência. A boa exposição solar, o abrigo em relação aos ventos dominantes, a proximidade de água, do pólen e de pedreiras revelam engenho na conceção e construção destas estruturas que também podem ser designadas de cortiços.

O exemplar encontrado na Herdade do Zambujo poderá ter nascido na Idade Média, eventualmente em períodos anteriores ao século XVII. E por se tratar de um elemento importante do património da empresa, tem grande interesse turístico-didático, sendo significativo no apoio ao desenvolvimento local.

Conservar cada favo de história

Salvaguardar e valorizar, são as palavras de ordem para este muro apiário. Pela importância económica que teve em tempos remotos, pelo seu estado de conservação, implantação, beleza e monumentalidade, considera-se do maior interesse empreender o inventário sistemático deste tipo de construção.

O fundamental é proteger o património cultural, constituído por todos os bens que são testemunhos com valor de civilização ou de cultura. Esta conservação faz-se também à luz do Princípio 9 do FSC, que especifica que todas as organizações certificadas devem manter e/ou melhorar os Altos Valores de Conservação presentes na sua floresta, através da aplicação do princípio da precaução.

E foi isso o que a The Navigator Company fez! Com recurso ao Qfield uma aplicação móvel de ligação ao software QGIS, empenharam-se a fazer o inventário deste tipo de património.

Gabriel Rocha Pereira, arquélogo da NEXO - Património Cultural, Lda. que colaborou com a The Navigator Company na identificação dos Altos Valores de Conservação da propriedade, refere: “Os bens culturais são hoje considerados um recurso territorial finito, frágil e não renovável, sendo facilmente ameaçados quer pela pressão urbana quer pela atividade florestal. Neste último, importa sobremaneira refletir que muitos dos vestígios identificados podem ainda apresentar boas condições de preservação, pelo que poderão ser excelentes testemunhos de interesse cultural. A imprevisibilidade da ocorrência de vestígios arqueológicos implica uma pré-avaliação dos impactes, assim a metodologia desenvolvida com recurso à aplicação móvel Qfield revela-se bastante promissora, possibilitando a médio/longo prazo a gestão e monitorização dos bens culturais identificados in loco.”

Com as coordenadas deste bem cultural devidamente reconhecidas, é agora possível atualizar as bases de dados para o planeamento das operações florestais. Sim, porque esta floresta tem um plano a seguir com vista à produção, enquanto se debruça na preservação, garantindo o uso responsável dos recursos florestais, conciliando conservação ambiental, benefícios sociais e viabilidade económica, como determina a certificação FSC.

História com futuro

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© FSC Portugal

O processo de prospeção arqueológica e de gestão ativa da floresta tornou-se mais interativo e dinâmico. Enquanto se caminha por estas “Florestas de Alto Valor de Conservação”, outrora habitada pelos nossos antepassados, percebe-se que cada pedra conta uma história e que as construções que se erguem ao longo dos séculos, são testemunhas silenciosas de épocas de glória e desafios superados, que materializam uma herança coletiva de cada geração.

E é na imensidão do tempo, onde as histórias e as tradições se entrelaçam, que a criação destas novas abordagens permite mais eficiência na recolha de dados e que o passado não fique esquecido lá trás, mas que seja uma motivação para continuar a moldar o presente e, sobretudo, um futuro que respeite e conserve a floresta em prol das gerações futuras.

Com o apoio da The Navigator Company.