Valores que contam uma história rara

conservação de habitats prioritários e património arqueológico revela a coexistência harmoniosa entre o passado e o presente. A raridade aqui é preservada, bem como é-lhe dada a importância devida. Conheça dois dos exemplos de Altos Valores de Conservação protegidos pela certificação FSC que podem ser descobertos nesta história. 

 

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Dunas fósseis milenares

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© FSC Portugal

Arenoso mas cheio de água, quente mas ao mesmo tempo fresco. Estamos em Alcácer do Sal. O verde mistura-se com o amarelo-claro das areias que circundam o estuário do Sado.

Aqui encontramos um habitat raro, que pela sua raridade é motivo suficiente para a classificação de Alto Valor de Conservação. Todos os valores biológicos, ecológicos, sociais ou culturais de importância excecional ou crítica podem ser classificados como tal. As Paleodunas estão enquadradas nesta tipologia, por serem dunas fósseis, também conhecidas como dunas consolidadas. Este é um processo de milhares de anos. A areia solta passa para rocha arenito ao fim do estágio.

Como é que isso acontece?

Ao longo do tempo, a ação de um cimento calcário (proveniente da dissolução dos fragmentos de conchas que compõem a areia) provoca a aglutinação progressiva dos grãos de areia, originando a duna consolidada.

São 28,77 hectares de área conservada, de um total de mais de 895 hectares.

Habitat prioritário

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© FSC Portugal

A milenar Paleoduna de Montalvo é uma estrutura, onde se desenvolveu um habitat prioritário para a conservação, as dunas litorais de Juniperus navicularis, um zimbro endémico da Península Ibérica.  Mas esta não é a única espécie de flora que temos neste lugar. A Armeria royana* e os tomilhos Thymus capitellatus e Thymus camphoratus* também são seus vizinhos.

“Este Alto Valor de Conservação é único e está integrado na Reserva Natural do Estuário do Sado e na Rede Natura 2000.” diz Pedro Pacheco Marques da ANSUB.

Uma grande diversidade de avifauna escolhe este local como abrigo e alimentação. É neste lugar onde executam a sua tão importante tarefa de dispersão das sementes de zimbro, que levará ao repovoamento da zona com esta variedade endémica. Avistamos também espécies prioritárias: a Garça vermelha (Ardea purpura) e a Águia pesqueira (Pandion haliaetus). Um dia farão parte de um percurso interpretativo, que ajudará a proteger e a valorizar, ainda mais, a área.

“A Paleoduna está integrada na Herdade de Montalvo (…) e onde podemos demonstrar que a abertura à comunidade, o turismo e os Serviços de Ecossistema são um valor acrescentado.” refere Paulo Tomás da Herdade de Montalvo.

7600 anos de cão doméstico

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© FSC Portugal

20 km percorridos e demos com a Herdade de São Bento. Outrora, local de habitação de populações do Mesolítico, denominado de “Concheiros do Sado”, hoje é um espaço de turismo, ao mesmo tempo que é uma estação arqueológica. O ancestral e o contemporâneo tocam-se de forma subtil sem se interferirem.

Para além do solo arenoso, temos sobreiros espalhados de modo aleatório. Era nesta zona onde depositavam os bivalves (berbigão, amêijoa, ostra, mexilhão), que, entretanto, ficaram fossilizados.

Os achados aqui existentes, permitem estudar como viviam as gentes que cá habitaram entre os anos 8000 e os 4500 a.C.. Esqueletos humanos e de outros animais, armas ou objetos votivos e decorativos são alguns dos Altos Valores que podemos achar nesta zona.

A mais surpreendente de todas as descobertas, até à data, foi a de um esqueleto de um cão doméstico com 7600 anos. Foi em junho de 2011, que uma equipa luso-espanhola encontrou este valor arqueológico, num amontoado de conchas que os caçadores-recolectores deixaram nas margens do Sado.

Junto à área arqueológica, existe um extenso curso de água protegido de um corredor de arbustos e de árvores (em especial de salgueiros (Salix atrocinerea), cujas copas criam sombra e um espaço convidativo para a biodiversidade. São cerca de 2km de estrutura vegetal onde se fixam diversas espécies da fauna e da flora, constituindo uma descontinuidade vegetal do montado que está mesmo ali ao lado. 

Conservar é a melhor forma de intervir

O FSC alertou para o interesse de conservação destes Altos Valores de Conservação. O que fazer nestes casos? Nada! Estes valores devem ser mantidos, incrementados e monitorizados.

A certificação FSC anda de mãos dadas com os Altos Valores de Conservação. Por isso é que lhe dedicou exclusivamente o Princípio 9. Nele é abordada a identificação, avaliação, proteção e aprimoramento dos mesmos. E o mais importante é garantir que a atividade florestal não os afete negativamente!

No nosso país encontramos muitas áreas com concentrações significativas de espécies raras e ameaçadas ou habitats críticos para essas espécies (AAVC3), áreas florestais extensas (AAVC2) e valores culturais (AAVC6).

“Em ambos os casos, a certificação FSC sensibilizou os produtores e os gestores florestais para a importância da conservação quer de habitats prioritários quer de património arqueológico.” relata Pedro Pacheco Marques.

A grandiosidade dos Altos Valores de Conservação leva à criação de um maior cuidado. Valorizar a floresta com um olhar holístico, é essencial para uma correta conservação da mesma. Dar atenção a todos os pormenores… e tudo coexistirá em harmonia.

Com o apoio da ANSUB, Certisado e da Herdade de Montalvo

 

*Espécies prioritárias listadas no anexo II da Directiva Habitats