Um refúgio biológico

Junto à ribeira de Poiares encontram-se 4 hectares de floresta nativa, a única propriedade da LPN – Liga para a Protecção da Natureza, a norte do Tejo. Este refúgio biológico só foi possível através da implementação de práticas que passam pela proteção da regeneração natural das árvores. O compromisso com a gestão florestal responsável surge para valorizar a propriedade pelos bens e serviços de ecossistemas que esta possui. Saiba tudo sobre esta ilha de biodiversidade.

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A natureza como esperança

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© FSC Portugal

Junto à ribeira de Poiares encontra-se uma floresta nativa. São 4 hectares que contrastam vivamente com a paisagem circundante, dominada por espécies exóticas e invasoras. Estamos na freguesia de Arrifana, em Vila Nova de Poiares. Esta é a única propriedade da LPN – Liga para a Protecção da Natureza a norte do Tejo.

A esperança era de se criar um espaço dedicado à proteção e sensibilização para a natureza. Maria do Carmo Albuquerque fez a doação, em 2008, desta pequena propriedade junto ao afluente do Mondego - a Quinta da Moenda.

Uma quinta agrícola abandonada, colonizada por acácias e silvados. Uma realidade típica dos espaços rurais do centro de Portugal, dos quais não são exceção aqueles circundantes à Quinta da Moenda, também eles agora em transformação.

O abandono deu lugar ao sucesso

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© FSC Portugal

Os anos 90 foram decisivos para a mudança. Samuel Vieira, associado da LPN, iniciou (com dedicação) um trabalho de restauro envolvendo medidas de gestão simples, de silvicultura próxima da natureza. Foram cerca de 4 hectares de área intervencionada, dividida em cinco parcelas (duas de folhosas diversas, uma de pinheiro-bravo, uma de eucalipto e uma de matos).

“Este refúgio biológico foi conseguido através de práticas inovadoras em Portugal, que passam pela proteção da regeneração natural das árvores, em vez da utilização de arborizações” refere Joaquim Sande Silva, da LPN.

Uma das estratégias utilizadas foi o restauro do coberto florestal natural, com a promoção da floresta nativa, a redução ou eliminação da vegetação arbustiva e das espécies exóticas e invasoras, sempre com o foco na proteção da regeneração natural de espécies arbóreas autóctones. A remoção dos ramos mais baixos, para maximizar o crescimento em altura e o ensombramento e minimizar o desenvolvimento do mato, veio como complemento.

“As intervenções variam imenso com o local, mas essencialmente trata-se de destruir, controlar ou reduzir as invasoras, para incentivar a floresta nativa” diz Samuel Vieira, da LPN.

A ribeira de Poiares também não ficou esquecida. Esta linha de água carecia de uma galeria ripícola devidamente formada. A sua requalificação passa pela plantação de espécies autóctones e o controlo da herbivoria, ao longo de toda a ribeira.

A gestão ativa, trabalhada em conjunto com a natureza, ajuda na sucessão ecológica, na criação de uma floresta mais diversa, mais estável, mais resistente ao fogo e mais autossustentável.

Fazer crescer a gestão responsável

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© FSC Portugal

Eis que surge a vontade do reconhecimento do compromisso para com a gestão florestal responsável e sustentável. Valorizar a propriedade pelos bens e serviços de ecossistemas que detém e presta, atrair novos parceiros e permitir a entrada de novas oportunidades de financiamento que ajudem a alargar o trabalho feito, foram os motes para aceder à certificação FSC. 2022 marcou esta nova etapa da Quinta da Moenda.

“A Quinta está certificada desde 2022 pelo FSC, através do grupo Unifloresta, no fornecimento de Serviços de Ecossistemas, neste caso a conservação da biodiversidade e do carbono” acrescenta Joaquim Sande Silva.

Certificou-se 3,7 hectares da área e implementou-se a verificação de impacto de serviços de ecossistemas: a conservação e restauro de stocks de carbono e a preservação da biodiversidade com a recuperação da cobertura florestal nativa.

A requalificação ecológica da quinta, aliada aos princípios do FSC, propagou às áreas envolventes, que poderão (quiçá) futuramente propor-se à certificação. Os resultados atingidos são notáveis e um contributo para a mitigação local das alterações climáticas.

A inovação cria uma quinta modelo

Um espaço de demonstração de práticas inovadoras de silvicultura próxima da natureza, é como se pode descrever este local. A regeneração natural associada às características ecológicas das espécies que se pretende promover e das espécies que se pretende suprimir, são a chave do sucesso.

Práticas pioneiras não tão comuns em Portugal, com caráter de continuidade a médio-longo prazo, pouco compatíveis com os mecanismos de financiamento nacionais que procuram resultados a curto prazo, têm sido as estratégias usadas.

Dominado por carvalhos (Quercus spp.), bordos (Acer pseudoplatanus) e castanheiros (Castanea sativa), este espaço é exemplo de boas práticas de restauro ecológico e uma ilha de biodiversidade, no meio de uma paisagem dominada por exóticas e invasoras. A Quinta da Moenda é hoje uma floresta modelo no nosso país.

Com o apoio da LPN – Liga para a Protecção da Natureza e da Unimadeiras (Grupo Unifloresta).