A floresta comunitária
Parece uma paisagem saída de um conto de fadas. Esta é uma floresta encantada. É difícil descrever a beleza que ela contempla. O verde refrescante misturado com o cinzento das pedras e o azul translúcido das águas. Este é o Parque Nacional da Peneda-Gerês. Um lugar ímpar, sem comparação.
As áreas das serras do norte de Portugal foram, desde sempre, usadas pelos seus habitantes para as práticas agro-silvo-pastoris. Trabalham conforme as regras dos Baldios. Este conceito tão típico do Norte do nosso país e da vizinha Galiza, refere que são terrenos das comunidades locais, cuja gestão é feita por uma “Assembleia de Compartes”. Utilizam as terras para apascentar o gado, recolher lenhas, entre outras atividades.
“Os Baldios são áreas comunitárias que são geridas pelos Conselhos Diretivos das respetivas comunidades” refere Luís Roxo, da Attractive Cascade (Cerna Portugal).
Hoje visitamos dois destes Baldios: o de Fafião e o de Pincães. Aproximadamente 4 mil hectares de floresta.
Foco principal: preservar
Está calor, porque é verão. Mas aqui é mais longo o período de frio, que propriamente o tempo quente. As temperaturas são de extremos: ora está a escaldar ora está a gelar. Nestas alturas de calor, as pessoas que por aqui passam, procuram uma das imensas lagoas que existem no parque, para se poderem refrescar. Mas há que seguir as normas. Preservar o parque é o objetivo primordial, enquanto se tira benefícios para a comunidade.
O tempo, ditou a necessidade de intervenção nestas áreas. Foi importante criar medidas para a defesa contra incêndios, para o controlo e remoção de invasoras lenhosas e apostar na reflorestação. Esta tem sido obra das comunidades. Aos poucos e poucos têm desenvolvido ações no terreno, de modo a conservar e/ou melhorar o já existente. As entidades do governo nacional também fizeram importantes trabalhos de restauro do coberto vegetal.
Valorização dos Baldios
O programa da Federação Nacional dos Baldios (BALADI) deu o pontapé de saída. A valorização da floresta foi o mote para a implementação da certificação FSC. Com ela, para além da melhoria da gestão florestal, que reforçou as práticas já introduzidas pela comunidade e cujo espírito já era bastante alinhado com a certificação, veio também o valor acrescido dos produtos lenhosos comercializados.
O desafio não ficou por aqui. A implementação do Procedimento dos Serviços de Ecossistemas do FSC surge como uma forma de potenciar a preservação da floresta e do seu ecossistema ao serviço da comunidade local e dos que a procuram. O Fundo Ambiental deu o empurrão.
Espera-se que a conservação das características naturais da floresta, nomeadamente a área de folhosas autóctones, proporcione os serviços de conservação da biodiversidade e de sequestro e armazenamento de carbono.
A visibilidade chega com a certificação. Vários projetos com apoio público e privado têm tido maior acompanhamento técnico, e maiores taxas de aprovação e execução. Pede-se continuidade e apoio ao trabalho realizado.
“Estas áreas têm tido maior acompanhamento técnico, uma maior capacidade de gestão e valorização dos recursos florestais e uma maior visibilidade desse trabalho” afirma Luís Roxo.
O orgulho de uma comunidade
O resultado do conjunto das ações é este: uma floresta cuidadosamente gerida, que não só traz orgulho à comunidade que a governa, como a qualquer pessoa que a visite. E todos ficam encantados com aquilo que observam quando aqui chegam!
“Estão a ser implementadas medidas de conservação da floresta natural, controlo de invasoras, reflorestação e defesa contra incêndios. A certificação FSC permite-nos ser remunerados pelos serviços de ecossistemas que estas áreas prestam” acrescenta Raúl Costa, do Comunidade Local dos Baldios de Fafião.
Este lugar é único, tal como este projeto é único. O caráter comunitário potencia e enaltece a preservação e a valorização destas florestas. O envolvimento dos compartes e dos diferentes interesses destas comunidades, cria uma floresta diversa e de grande riqueza que é hoje um importante valor natural do único parque nacional português, o Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Com o apoio da Attractive Cascade (Cerna Portugal) e dos Compartes dos Baldios de Fafião e de Pincães.