O renascer do Oeste
Para os lados do Oeste, encontramos o reino do Pinheiro-bravo. Nas suas terras temos uma boa exposição solar, solos arenosos e soltos e com uma humidade suficiente para poderem ter uma vida longínqua. Aqui no Covão de Água, na Nazaré, encontramos tudo isso e ainda, a vontade de usufruir da melhor forma desta árvore nativa da Bacia do Mediterrâneo. Esta é uma espécie muito especial que alberga um elevado interesse ambiental, social e económico: fixa dunas, serve de proteção contra o vento, gera emprego e rendimento às comunidades, possui uma madeira muito durável, resistente e pouco flexível e permite a extração de resina!
“A resina natural é uma matéria-prima produzida por espécies resinosas, e neste caso aqui no povoamento de Pinhal-bravo na Nazaré” afirma Marco Ribeiro da Resipinus.
Nos quase 10 hectares de área onde habita este povoamento, foi decidido fazer uma intervenção total. Mais que produção de madeira de pinho, o importante era tornar este ecossistema num espaço multifuncional, que permitisse trazer maior valor para o Pinheiro-bravo. Com a ajuda da Associação dos Produtores Florestais de Alcobaça e Nazaré (APFCAN), olhou-se para o potencial da área e criou-se um plano. Apesar de já estar a ser bem cuidada, faltava-lhe um carácter profissional na gestão florestal, que veio a ser dado com a certificação FSC.
A profissionalização da gestão da floresta, através da certificação, permite o controlo das ações a executar e uma efetiva diminuição de custos. Assim, evitam-se intervenções, por vezes, desadequadas e desnecessárias. O potencial estava lá, o importante era descobri-lo.
Resinagem: arte e tradição
Alinhados a prumo, os Pinheiros-bravo vão-se sucedendo uns aos outros como se estivessem numa parada. A “fotografia de grupo” fica deveras pitoresca. Mas aqui a beleza da envolvente não é o que mais importa. O que traz à atenção, é a forma como se faz o cuidado.
Neste povoamento florestal, a gestão é feita de forma sustentável, porque manter o equilíbrio do todo, enquanto se faz a extração de diversos produtos, é a prioridade. Garantir a manutenção da floresta, é permitir que esta seja um recurso renovável e permanente.
Mas voltando à foto de conjunto… apercebemo-nos que cada Pinheiro-bravo carrega à “cintura” um recipiente. É aqui onde reservam um dos seus bens mais preciosos: a resina. Este líquido viscoso e esbranquiçado, muitas vezes apelidado de “novo ouro”, só pode ser extraída da árvore após ser feito um talho na casca. É uma “reação” para proteger a árvore. Depois é um processo lento, até endurecer o líquido com a exposição ao ar.
Por momentos paramos e ficamos a apreciar esta arte da Resinagem. Atividade praticada manualmente por um Resineiro, que traz consigo o conhecimento artesanal e ancestral de extrair, recolher, limpar e acondicionar a resina de pinheiros. Esta é uma profissão quase extinta. Mas ainda há esperança por um lado, e o anúncio do fim de um ciclo por outro.
Tem-se visto, nos últimos tempos, uma aposta na revitalização da fileira da resina natural, e isto já é a luz ao fundo do túnel. Até já existem projetos que visam modernizar e tornar a produção da resina natural mais sustentável em Portugal, abrangendo toda a cadeia de valor, desde a floresta até ao consumidor final, e que veem na certificação FSC, a sua grande aliada.
A alquimia do Pinhal-bravo
Posicionar este setor da resina natural na linha da frente, é agora a meta. Este produto florestal não lenhoso é um substituto direto das resinas sintéticas provenientes dos derivados do petróleo, e que são utilizadas em diversos produtos do nosso dia-a-dia, como tintas, vernizes, colas, ceras depilatórias, entre outros produtos. As vantagens não estão só naquilo que podemos obter da resina natural.
A resinagem, é uma atividade que tem um impacto muito positivo, porque permite criar oportunidades de emprego no meio rural, valorizar os pinhais, através da geração de receitas adicionais para as comunidades locais. Tudo isto permite a criação de riqueza e, consequentemente, a fixação de pessoas em territórios desfavorecidos.
Mas não fica por aqui. Esta atividade garante ainda que os povoamentos florestais tenham uma correta gestão, e o acompanhamento técnico necessário. Este conjunto contribui ainda para a bioeconomia, a resiliência económica, a neutralidade carbónica e para o maior controlo dos incêndios, através da presença constante dos resineiros na floresta. Claro está, que nada é feito ao acaso. Nenhuma intervenção é feita sem a atenção devida e a profissionalização do setor dizer ao mercado de que a resina natural “veio para ficar”.
Certificar para reinar
Esta é a hora de darmos mais atenção à resina natural e aos seus derivados, e de trazer ao de cima todas as suas potencialidades.
As áreas de pinhal já estão certificadas com o selo FSC, e o projeto de certificação da resina de Pinheiro-bravo já está a caminho. Será o auge da valorização deste produto especial e diferenciador pelas suas características naturais comparativamente a outras resinas existentes no mercado, garantindo que a sua extração provém de locais e práticas sustentáveis, amigas do ambiente e das pessoas.
“A certificação FSC permitiu um melhor planeamento, uma gestão mais ativa e profissional e uma redução de custos para o proprietário” elenca Cátia Vinagre da APFCAN.
Marco Ribeiro acrescenta: “A certificação FSC da resina tem como objetivo a sua valorização, a sua diferenciação para resinas de outras origens e também garantir que ela provém de pinhais bem geridos.”
Validar junto da sociedade que esta atividade é realizada de uma forma responsável, garantindo a resposta ao consumo que aquela exige desta matéria-prima e dos seus derivados, sem comprometer o seu futuro. Apostar em florestas saudáveis, que devolvam produtos positivos para o mercado global e para o planeta, é uma prioridade, e a resina natural é sem dúvida um desses produtos.
Com o apoio da APFCAN e RESIPINUS